Altos e baixos de Kamala

 

No meu cego entusiasmo ao ver uma luz no fim do túnel que elegeria Donald Trump, fechei os olhos para um traço odioso de Kamala Harris: seu exacerbado sionismo. Porém, ela não estará presente no discurso que Benjamin Natanyahu fará hoje no Congresso dos EUA.

Harris já havia tomado a decisão antes de Biden abdicar da corrida presidencial. Talvez um sinal de que ela não compactue com os crimes do primeiro ministro israelense.

Já é alguma coisa.

Me lembro que durante o governo do inelegível eu via qualquer um que se posicionasse para sucedê-lo com entusiasmo. Agora é parecido com Trump...

Não que Harris seja qualquer um. Não é. Tem seus defeitos, contudo. Já na segunda-feira, por sinal, ela lançou um comunicado dizendo ter "o amplo necessário" apoio dos delegados para tornar-se a candidata presidencial. E bate sucessivos recordes de arrecadação.

Outro setor em que ela pode influir é no poderoso Vale do Silício, como indicam as informações do jornalista Pedro Doria publicadas ontem no Globo.

Lá, a disputa eleitoral se daria entre o vice de Trump, J.D.Vance (porque Trump é velho e está em outra e Vance tem conexões diretas com essa tribo), e Harris, se ela for a indicada pela convenção dos democratas.

Há uma espécie de time de homens, com cerca de 50, que ajudou a criar o PayPal, primeiro sistema de pagamento via Internet, cuja venda os tornou milionários. Elon Musk e Peter Thiel, influente investidor de tecnologia, estão entre eles.

Musk e Thiel são ligados a Vance, que chama esse poderoso grupo de “A Catedral”. Eles querem menos regulação, a desregulação das criptomoedas, bloqueiam o acesso dos mais pobres e mesclam libertarianismo com reacionarismo.

Desconfiam de seus pares no mundo digital por achar que os gigantes de tecnologia não gostam da direita.

Já liberais progressistas como Tim Cook, da Apple, os fundadores do Google e Netflix e inclusive parte da máfia da PayPal são doadores do Partido Democrata. 

Estes, se afligem com os impactos econômicos causados pelo meio digital ao planeta. 

Este, portanto, seria mais um ponto a favor de Harris, porque Biden, como Trump, estaria distante deste universo cada vez mais vital. Sem dúvida que ela vale muito mais para os EUA e o mundo do que o candidato Republicano.

Em tempo: pesquisa de ontem da Reuters/Ipsos cravou Kamala - ainda pré-candidata - com 44% e Trump com 42%.