Os ilícitos familiares do capitão

 

Quando o inelegível reuniu-se com o general Augusto Heleno, do GSI, o então chefe da Abin, Alexandre Ramagem, o filho Flávio e advogadas, em 25 de agosto de 2020, ele já tivera seis encontros com um coronel que o teria alertado sobre os riscos que o filho corria com as ‘rachadinhas’.

O encontro buscava estratégias para anular a investigação contra Flávio através da máquina federal.

O ex-presidente não lembrava o nome do coronel, ao que Heleno citou “Magela”, codinome do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Pereira Leonel Marsiglia, que vem a ser irmão de um auditor da Receita. 

Ou seja, uma fonte indireta.

Segundo a agenda do capitão, foram seis reuniões com o tal coronel, sempre a sós. A primeira em 28 de março e a última em 23 de maio de 2020. Da única com mais participantes, em 22 de maio, participaram os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Economia, Paulo Guedes.

Quer dizer, as autoridades do governo tinham de prestar vassalagem  para resolver os problemas particulares do chefe.

O irmão de Marsiglia, segundo a Folha, era auditor da Receita no Rio e se envolveu com um litígio com o órgão, usado pela defesa de Flávio para justificar acesso ilegal a seus dados.

Eram cinco auditores fiscais da Receita sob acusação de enriquecimento ilícito. E todos eles afirmavam estar sob perseguição interna com base em acessos ilegais.

Em 2020, a defesa de Flávio usou esses casos para acionar órgãos federais como a Presidência, o GSI, a Abin e a PGR. Alegava que estes órgãos acessaram ilegalmente seus dados fiscais para subsidiar o relatório do Coaf que originou a investigação de 2018, que o incriminou.

Em 26 de agosto de 2020, no dia seguinte da reunião mencionada acima, as advogadas de Flávio, Juliana e Luciana, estiveram com o então secretário da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, para uma “visita de cortesia”.

Ou seja, tratar da interferência exigida pelo então presidente nas investigações contra seu filho, acusado há anos de praticar ‘rachadinha’ quando deputado na Alerj. Tostes teria feito o papel de araponga do capitão junto à Receita.

Tudo isso veio à tona com a transcrição do áudio de 1 hora e oito minutos da reunião de 25 de agosto, tornado público pelo ministro Alexandre de Moraes na semana passada.

Se tudo se confirmar, mais ilegal, impossível.

Em tempo: ontem o capitão protagonizou matéria de página inteira no New York Times como ladrão das joias das Arábias.