Mujica não morreu, se encantou

 

Um dos mais notáveis políticos do planeta se foi ontem, consumido pelo câncer no esôfago e fígado e por sua saúde fragilizada por ferimentos à bala, 14 anos de prisão severa e pelas torturas sofridas no cárcere. 

José Pepe Mujica nos deixou aos 89 anos como um exemplo de coerência, ética, humildade e desprendimento.

Algo tão em falta no Brasil e no mundo...

Nascido em Montevideo em 20 de maio de 1935, foi de guerrilheiro a presidente do Uruguai, de 2010 a 2015, quando doava parte de seu salário aos pobres, saltou o gasto social de 60,9% para 75,5% e aumentou o salário mínimo em 250%. 

De fazer inveja a Armínio Fraga...

Como se não bastasse, propôs a legalização da maconha e apoiou o movimento LGBTQIA+, alma progressista que se dizia ateu e panteísta, enquanto amante da natureza que foi.

Nos anos 60, Mujica entrou para o grupo guerrilheiro Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, que, antes da ditadura militar uruguaia, em 1973, assaltava bancos e distribuía o dinheiro roubado aos pobres, no melhor estilo Robin Hood.

Livre em 1985, entrou para a política a ajudou a fundar o partido de esquerda Movimento de Participação Popular (MPP). Elegeu-se deputado em 1994. Após sua passagem pela presidência foi senador da República. Desde a presidência, morava em um sítio no subúrbio da capital  e ia trabalhar no seu fusca azul calcinha, modelo1982. Cultivar sua horta e suas flores eram sua curtição.

Tive o privilégio de vê-lo ao vivo e a cores quando ele participou de um evento na Uerj, em 2015. Eu trabalhava na ONG Viva Rio e fiz uma das coberturas mais simples da minha vida profissional. A densidade de suas frases já dizia tudo:

“Sem solidariedade não há civilização”.

“Liberdade não se vende, se ganha”.

“Não nasceste só para suar, mas para viver, ter tempo para os filhos e os amigos”.

“Não adianta sonhar por um mundo melhor se não luta por ele.”

“Os únicos derrotados são os que deixam de lutar.”

“O pior problema da América Latina é a desigualdade crônica”.

Mujica não morreu, ficou encantado, como diria o nosso Guimarães Rosa...