As nossas cortinas de fumaça


 A cortina de fumaça lançada na Segunda Guerra, na invasão da Normandia (foto), foi física e de comunicação, com falsos sinais que ocultaram a hábil construção dos aliados. Parecido com o que assistimos na política brasileira: as tramas antidemocráticas foram de início rejeitadas pelos conservadores. E assim, o 8 de Janeiro foi desconstruído, como aponta o cientista político Pablo Ortellado.

A sobreposição da mentira sobre a verdade torna-se predominante nesses novos tempos...

Tudo começou pelo falso discurso de que as forças de segurança foram omissas e que o Ministério da Justiça sumiu com imagens de câmeras. Depois, vieram as críticas às penas elevadas, sobretudo entre mães de família e idosos, como se fosse esse o perfil dominante entre os golpistas.

Para completar, os conservadores acreditaram que o 8 de Janeiro não passou de uma manifestação de pessoas de bem, ordeiras, que saiu um pouco do controle, provavelmente por culpa do governo Lula ou dos infiltrados de esquerda.

(Tenho um tio que pensa exatamente assim).

E taxou tudo de “constitucional”. Que tentativa de golpe era essa, sem Exército nas ruas? Qual o problema de se cogitar acionar um mecanismo previsto na Constituição? E assim a realidade desapareceu. Era preciso intervir no TSE para reverter o resultado eleitoral e prender um ministro do Supremo — o que só não aconteceu porque o alto comando do Exército não embarcou nessa onda.

Ou seja, o que começou como dissimulação transforma-se em crença verdadeira.

Parecido com a fumaça lançada pela esquerda no esquema de corrupção que ligava Petrobras, empreiteiras e financiamento eleitoral. Ainda há quem ache que nada daquilo existiu de verdade. Só que a cegueira induzida aos conservadores é pior, porque ameaça a democracia.

O site Come Ananas lembra de contexto semelhante em relação à OAB. Durante a ditadura militar, a secretária Lyda Monteiro foi assassinada ao abrir a carta endereçada a seu chefe, na presidência da OAB. Eram as ações da linha dura dentro do próprio Exército, depois reconhecidas por todos, e entrou para a história da luta pela democracia.

Pois agora, (seria uma outra?) a OAB reage, em carta, à “prisão e imposição de medidas cautelares severas contra réus em processos criminais, sem trânsito em julgado”.  A OAB passou a se preocupar com “medidas severas” contra os que atentaram contra a democracia. Mais que fumaça, é uma muralha que tenta ocultar a realidade.

Os exemplos, aliás, são incontáveis...

 

Comentários

  1. Mindinho Veríssimo
    É golpe sempre em movimento, é ficar atento à tudo .

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  2. Paulo Norcia
    Excelente texto ! O golpe de 64 ainda não terminou e a tentativa de 8 de janeiro também não. Fiquemos atentos !!

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    1. As tentativas de golpes que assistamos agora são uma sequência de 1964, cujos crimes estão até hoje impunes e geram os filhotes que assistimos. A tal da anistia viria - e não virá! - para dar continuidade ao que não foi interrompido

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    2. Paulo Norcia
      A Argentina (1985, o filme, o julgamento), poderia servir de exemplo para nós e pra o mundo

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  3. Carlos Freitas
    O Brasil não é para principiantes. Essa extrema direita, fascistas travestidos de patriotas, que não têm a mínima vergonha de apoiar uma ação de país estrangeiro às instituições brasileiras pelo desejo de ver anistiados o imbecilizado chefe e seus fanáticos seguidores.
    Pobre país que assiste a isso envolto em tantas mentiras difundidas pelas redes sociais e tidas como verdade absoluta por uma massa de manobra, míope e ignorante, incentivada por pastores e outros animadores de torcida.
    Sem anistia para golpistas!!

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  4. Antonio Carlos Barros Barros
    A direita nunca se endireita.

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  5. Nelson Franco Jobim
    É isso. Vejo três elementos que confirmam o golpe. No depoimento no STF, Bolsonaro admitiu que, "esgotados os recursos legais, estudou alternativas". Se fosse só estudo, não seria golpe. Mas, quando o ministro da Defesa tentou apresentar ao então comandante da Força Aérea um documento que excluía a posse de Lula, fica clara a tentativa de golpe. O brigadeiro não quis nem ver e se recusou a participar da reunião. O terceiro ponto é a confissão do general Mário Fernandes de que "digitalizou um pensamento". Então, um general do Exército faz um plano para matar altas autoridades e imprime no Palácio do Planalto e isso não significa nada? Na guerra, enganar o inimigo é uma velha tática. Na democracia, é outra história.

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  6. Sim, e eles não vão desistir nunca de continuar tentando...

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  7. Nelson Franco Jobim
    Felizmente, o alto comando não aderiu. Os militares hoje são mais profissionais. Tomar o poder é fácil para eles, mas sabem que não estão preparados para governar. Capitão não dá golpe, a não ser na África. Quem dá golpe, como ensina o Paquistão, é o comandante do Exército.

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