O guardião da democracia

 

Volto a me debruçar sobre a linha editorial política das Organizações Globo. Na última sexta-feira, a experiente Malu Gaspar elogiava o desempenho de Alexandre de Moraes, sem perder a chance de uma estocada final: “Numa democracia forte, a Justiça trabalha por princípios, e não por interesses políticos ou pessoais (...) ela não pode estar sujeita aos caprichos de seus integrantes”, referindo-se a Moraes.

Imagino o ministro lendo um texto desses. Para quem não mediu esforços para garantir a continuidade da nossa democracia, sem que isso significasse interesse em cargos políticos – até porque ele já chegou ao topo da carreira – deve ser de doer. Ao lado, a estreante Julia Duailibe botava no colo do ministro a vitimização de Bolsonaro.

Ok, faz até sentido, embora ela admita no mesmo texto que a origem da vitimização vem do medo do ex-presidente em acabar na Papuda. No contraponto à má vontade das duas jornalistas está o primoroso artigo de Cora Ronai, no Segundo Caderno, com quem concordo em gênero número e grau.  

Ao contrário do que defendem Demétrio Magnoli e Joel Pinheiro no Em Pauta, da Globonews, – ambos com aquele jeitão de papai sabe tudo -, Cora deixa claro que quem critica a proibição de Bolsonaro a ter acesso às redes sociais não entendeu até agora o risco que as redes sociais representam.

“Hoje um conspirador traidor causa muito mais estrago pela internet do que com a própria e asquerosa presença física”, ela compara, sem meias palavras, do alto da sua experiência como especialista em internet e mídias digitais.

Ela e todos nós sabemos que Moraes tem seus defeitos. Quem não os tem? Os estetas podem até apontar sua careca...Não tenho dúvidas, porém, de que não fosse ele, hoje continuaríamos a ter Jair Messias na presidência do Brasil.

E agora que assistimos ao caos implantado por Donald Trump - sua fonte de inspiração -, imaginem o que não viveríamos agora? Como bem disseram Steven Levitsky e Daniel Ziblatt em “Como morrem as democracias”, os autocratas preparam o terreno em seu primeiro governo para barbarizar no segundo.  

“Nesse momento de nossa história Moraes tem sido a muralha que nos separa da barbárie”, define Cora com perfeição. Tudo bem, não significa que ele possa fazer qualquer coisa, porém, vamos combinar que seu crédito é infinito. 

Enquanto Trump aumenta a cada dia suas ameaças contra o magistrado, Davi Alcolumbre, presidente do Senado, garantiu que não porá para votação seu impeachment, após 30h de sequestro do Congresso pelos bolsonaristas. 

Não passarão (apesar das Organizações Globo...)!