A bola dentro de Lula

 

Quando Donald Trump cruzou ontem com Lula na ONU – elogiou a química entre eles e prometeu um encontro na próxima semana, para desespero dos bolsonaristas  –, já tinha ouvido o discurso do presidente brasileiro. Com recados diretos a ele do início ao fim, sem citar seu nome. Abaixo, alguns trechos:

-Assistimos à consolidação de uma desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais são regra.

-O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente a arbitrariedades. (...) Cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias físicas e digitais, e cerceiam a imprensa.

- Mesmo sob ataque, o Brasil  resistiu e defendeu sua democracia, reconquistada há 40 anos, após 20 anos de ditadura. Agressões contra a independência do Poder Judiciário são inaceitáveis.

- A ingerência em assuntos internos é auxiliada por uma extrema direita subserviente e saudosa do passado. Falsos patriotas agem contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade.

-Pela primeira vez em 525 anos, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito. Foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso. Teve amplo direito de defesa, prerrogativa que as ditaduras negam às suas vítimas.

-A comunidade internacional precisa rever as suas prioridades: - Reduzir os gastos com guerras e aumentar a ajuda ao desenvolvimento; - Aliviar o serviço da dívida externa dos países mais pobres, sobretudo os africanos; e - Definir padrões mínimos de tributação global, para que os super-ricos paguem mais impostos que os trabalhadores.

-A internet não pode ser uma “terra sem lei”. Cabe ao poder público proteger os mais vulneráveis. Regular não é restringir a liberdade de expressão. É garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim no ambiente virtual.

-A forma mais eficaz de combater o tráfico de drogas é a cooperação para reprimir a lavagem de dinheiro e limitar o comércio de armas. Usar força letal fora de conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento.

- Países ricos usufruem de padrão de vida obtido às custas de duzentos anos de emissões. Exigir maior ambição e maior acesso a recursos e tecnologias não é caridade, mas justiça. A corrida por minerais críticos, essenciais para a transição energética, não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos.

A Casa Branca confirmou o encontro, que o Itamaraty acredita ser remoto. Resta saber qual será a postura de Trump. Sabe-se, porém, que ele prefere os altivos aos aduladores...