A conversa fiada da pacificação

 

Em seu último livro, “Utopia autoritária brasileira: como os militares ameaçam a democracia desde o nascimento da República até hoje”, o historiador Carlos Fico contabiliza 136 anos de tentativas de golpes, em que as inúmeras anistias concedidas a golpistas não levaram a nenhuma pacificação – que volta a ser, agora, o principal argumento da oposição.

Até hoje, as várias anistias concedidas a golpistas no Brasil não levaram à pacificação e à acomodação democrática, e sim a novas tentativas de golpe. No perdão concedido por JK a Castelo Branco, por exemplo, o marechal voltou a assombrar o país com o golpe de 64 – do qual foi o primeiro presidente.

“O fato de agora existir um inquérito conduzido pela polícia adequada, a PF, de a PGR ter feito a denúncia ao STF, que aceitou essas pessoas, inclusive os militares, como réus, e elas estão começando a ir a julgamento em contexto de normalidade democrática, é absolutamente inédito. Se houver condenação, será ainda mais inédito. E ineditíssimo se não houver anistia, diz Fico ao cientista político Pablo Ortellado.

A oposição vende a proposta como forma de pacificar o país, “mas, do jeito que está, seu efeito será o oposto”, aponta Fico.

Segundo ele, a concessão da maioria das anistias não se deu  por ingenuidade, e sim pelo temor dos que estavam no poder de que duras penas não seriam respaldadas pelas Forças Armadas, atiçando a instabilidade política. “ Não é o que vivemos agora. Temos toda a condição de punir os golpistas em relativa estabilidade democrática” argumenta.

A pacificação funcionou nos processos históricos em que ambas as partes fizeram concessões. Fico lembra que acusações, como as que ligam Bolsonaro ao 8 de janeiro e ao Punhal Verde e Amarelo não se baseiam em provas robustas.

“Talvez um movimento de reconhecimento e revisão desses problemas pudesse ser um ponto de partida. Eles reconheceriam a tentativa de golpe, aceitariam a punição para Bolsonaro e generais e a ofereceriam alguma garantia de que passarão a reconhecer resultados eleitorais? , questiona Fico.

E hoje, o que deve levar todas as matizes políticas às ruas no país no combo Anistia/PEC da Bandidagem do Congresso é a segunda causa. Assim como o tarifaço de Trump nos devolveu a luta consensual pela soberania. 

A partir das 14h, no Posto 5 da Avenida Atlântica – com presença de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil e outros artistas. Na Paulista, em frente ao MASP, e em várias capitais do país! Sua participação é essencial!!!