Como desagradar a gregos e troianos

 

Quando Hugo Nem se Importa escalou Guilherme Derrite (PP-SP)– o sanguinário secretário de Segurança licenciado de Tarcísio de Freitas – para a relatoria do PL Antifacção do governo federal, já dava um recado das suas (más) intenções.

O texto, majoritariamente do ministro Ricardo Lewandowski, chegou à Câmara logo após a matança promovida por Claudio Castro nos complexos da Penha e do Alemão em 28 de outubro. Claro que o objetivo de Derrite era desfigurar o projeto para transferir seus louros a Tarcísio (ou a si próprio).

Em clara disputa política por 2026, porque Derrite já se coloca como candidato à presidência (assim como Claudio Castro e Flávio Bolsonaro – socorro!). Logo na primeira de suas seis versões – algo anormal para a tramitação de qualquer projeto – ele já disse ao que veio: tentou submeter a participação da PF aos governadores.

Se assim fosse, Daniel Vorcaro não seria preso e o Banco Master liquidado, porque o governador Ibaneis Rocha estava diretamente envolvido na compra do BRB pelo Master.  

O texto foi aprovado na Câmara por 370 a 110, na terça-feira, após as alterações feitas pelo relator na proposta original (ele jamais poderia deixar a fama a Lula...), batizado com o pomposo “novo marco legal do combate ao crime organizado”

Duas questões continuam a incomodar o governo: o aumento das penas para integrantes de facções de 8 a 10 anos – conforme lei de 2013 – para de 20 a 40 anos. Isso por que sem que a lei anterior seja anulada, haverá margem para discórdias, uma “lambança legislativa”, segundo Gleisi Hoffmann.

E a outra é que a PF – embora não dependa mais de ordem dos governadores para agir – ficará descapitalizada, ou seja, esvaziada, quando participar das investigações.

Fora que os governadores de direita – aqueles que criaram o Consórcio da Paz após a Operação Contenção – insistem em transformar os traficantes em terroristas, o que  dificultaria investimentos internacionais no país e abriria as portas para Donald Trump, por exemplo, agir militarmente no Brasil.

Motta conseguiu desagradar a gregos e troianos. A sorte é que o PL ainda passará pelo Senado, cujo relator será o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) – politicamente desvinculado tanto do governo, quanto dos bolsonaristas.