A dosimetria pela nossa goela abaixo

 

Estarrecedor. Ficamos sabendo que o PL da Dosimetria, que reduz drasticamente o tempo de prisão dos golpistas, inclusive de Bolsonaro e seus generais de estimação, aprovado ontem no Senado - também a toque de caixa-, foi resultado de um acordo que incluiu não só o ministro Alexandre de Moraes, como o próprio governo.

Primeiro passou pelo CCJ do Senado, após ser incluída a restrição no projeto de só atingir os participantes da tentativa de golpe, para evitar que criminosos comuns fossem beneficiados. Ao mesmo tempo, o clamor das ruas parecia ter contido a ânsia do Congresso. Pois não fez nem cócegas...

Eu já tinha falado aqui – igualmente estarrecida – da participação de Moraes no acordo espúrio, ao lado dos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Os dois últimos nem chegam a surpreender. Ontem, o senador Alessandro Vieira (MDB-SE) confirmou a participação de Moraes no acórdão.

O próprio Alessandro havia dito que não votaria a favor - só que se referia ao texto do jeito que veio da Câmara.

E o nosso paladino da democracia, por sua vez, deu declarações criticando a redução das penas dos condenados por tentativa de golpe, que considerava um atrativo a novas tentativas. Ao mesmo tempo, voltou a condenar os réus a penas extensas, como os 26 anos ao general Mário Fernandes, considerado autor do plano Punhal Verde e Amarelo de matar Lula, Geraldo Alkmin e Alexandre de Moraes.

Será que serão levadas a sério essas condenações que atingem os 29 réus? Em quem acreditar?

E ontem Jacques Wagner (PT-BA, foto), líder do governo no Senado, admitiu que - ao contrário do que dizia Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais -, o governo simplesmente deixou que a dosimetria fosse votada. Ele próprio sequer participou da votação no CCJ. Era a moeda de troca pela aprovação da taxação das bets e fintechs, para viabilizar o orçamento de 2026.

Como se não bastasse, até o senador Fabiano Cantarato (PT-SE), que já havia anunciado seu voto contrário à dosimetria, votou a favor, “por engano”. E disse que vai pedir a correção do seu voto. A essas alturas, a gente até duvida.

Agora, Lula já anuncia seu veto. Sabemos que pró-forma, porque a palavra final é do Legislativo, que já promete vetar o veto do presidente. Resta a hipótese remota de judicialização. Ou seja, os próximos candidatos a promover golpes já sabem que poderão dispor de leis que amenizam as penas.

Pelo visto, toda aquela comemoração sobre a primeira vez em que um presidente e generais que tentaram golpes são alvos de longos períodos de prisão fechada não passou de jogo de cena. Paulinho da Farsa já deve estar brindando...