A naturalização da barbárie

 

Depois que os algoritmos das redes sociais, as emendas Pix e os fundos partidários começarem a botar a democracia de pernas para o ar, eis que entra em cena o mago do ilusionismo. Lamarçal fez da eleição venda de produto digital.

E essa vira a mais forte influência exercida sobre nossos pleitos. Para pior. Muito pior. Como explica o jornalista Pedro Doria, o ex-coach é especialista em “fórmula do lançamento”, técnica para convencer potenciais clientes a comprar pelas redes sociais. E assim o processo eleitoral vira um circo.

Como vimos o Inelegível praticar atrocidades – como suas permanentes ameaças de golpe, sem até hoje ter sido punido por levar o plano às fias de fato -, Lamarçal atuou todo o tempo para chamar atenção sobre si com mentiras, brigas e até falsificação de laudo médico para provocar a viralização orgânica, que barateia os custos do marketing.

Assim como o capitão, quando ajudou a provocar as 700 mil mortes na pandemia do coronavírus com ideia fixa em reeleição, Lamarçal só pensa em chegar à presidência, para a qual já começa a trabalhar no seu Instagram. Espera-se que o TSE o torne inelegível e não permita tal barbaridade.

Ontem assinei um abaixo assinado do avaaz por sua inelegibilidade. Assine!  https://secure.avaaz.org/campaign/po/marcal_inelegivel/?whatsapp 

Isso sem falar no sequestro do debate público, anulando, como por milagre, as propostas de seus adversários. E sem falar na provocação aos mais esquentados e nos concursos de corte, que premiam os vencedores enquanto os milhares que botaram a mão na massa ficam a ver navios. Sai barato.

E, como se não existissem leis nesse país (será que existem?), a defesa do ex-coach alegou que o laudo falso contra Boulos foi “livre manifestação de pensamento”. 

Como assim, onde isso tudo vai parar?

Onde estão a ética, as ideias, a livre concorrência entre os candidatos, a honestidade, as propostas, a democracia? 

A naturalização de toda essa barbárie é um caminho pior do que o da ditadura, onde as pessoas sabem que seus direitos são cerceados, não há liberdade de informação e a infrações ao poder constituído dão prisão sem habeas corpus.

Ontem escrevi aqui sobre o racha na extrema direita – leia-se  bolsonaristas e marçalistas (inacreditável, mas esse grupo já existe). E, como se fosse um santo impoluto, Lamarçal exige desculpas do Inelegível e diz que não apoiará Ricardo Nunes, agora transformado por ele em anticomunista...

E, para os que tinham esperanças de que a ascensão mundial da extrema direita fosse fogo de palha, o filósofo Wilson Gomes mostra, no Canal Meio, que não é bem assim:

"Pode-se dizer que a extrema direita se revelou contagiosa, com populações de importantes democracias no mundo decididas a apoiar candidatos que exibem com orgulho seu radicalismo e sua vocação."  

Por enquanto, parece ser uma tendência sem volta...