Andamos para trás

 


Eu trabalhava na Revista IstoÉ, quando ainda digeríamos o livro “O Fim da História”, de Francis Fukuyama, do início dos anos 1990. O cientista político americano propunha que o avanço das democracias liberais e do livre mercado poderiam indicar o fim da evolução sociocultural da humanidade.

Propus uma capa, explicando o que era direita, o que era esquerda, que não chegou a ser feita. Àquelas alturas, porém, mal poderíamos imaginar a polarização que dominaria a segunda década dos anos 2 mil, com uma inédita escalada da extrema direita em todo o planeta.

Pelas mais diversas razões.

Pois acaba de sair do forno uma pesquisa da Nexus, novo nome do antigo Ipri, controlado pela FSB, em parceria com o DataSenado. A divulgação foi do colunista Lauro Jardim. O estudo levanta exatamente o perfil de cada estado brasileiro sob os dois parâmetros.

Na realidade, nem era preciso pesquisa para revelar que Santa Catarina e Paraná – terra de Sérgio Moro e de sua turma de procuradores reacionários – são o segundo e terceiro estado mais à direita da federação. A lista é encabeçada por Rondônia, com 41% de sua população direitista.

Mato Grosso também integra esse grupo, não por acaso, onde se concentra o agronegócio, enquanto Santa Catarina e Paraná sofrem fortes influências de imigrantes alemães – terra do nazismo – e italianos – terra do fascismo. Difícil é entender de onde vem essa liderança de Rondonia...

A partir de entrevistas com 21.808 brasileiros de todos os estados, entre os dias 5 e 28 de junho, o estudo concluiu que 29% dos brasileiros são de direita, 15% de esquerda e 11% de centro – esse grupo decrescente porque fica de fora dos discursos de ódio e provocações em geral dos dois anteriores.

Quem lidera as tendências políticas no país são justamente aqueles que não têm tendências: 40% dos entrevistados.  

Pela ordem, os estados mais esquerdistas são Pernambuco, Rio Grande do Norte (ambos com 18%) e Ceará, redutos eleitorais de Lula e do PT – que parece vir em franca decadência nessas próximas eleições municipais.

Integram ainda essa turma mais progressista a Bahia, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro e São Paulo, em terceiro lugar, com 16%. Os dois últimos, por seus respectivos perfis cosmopolitas, que hospedam cidadãos do mundo.

E o que tudo isso quer dizer? Que cada vez mais o Brasil se distancia de suas tendências de país que sabe misturar raças e gêneros, sob a influência de valores retrógrados, religiosos e preconceituosos. Nada civilizatórios. Andamos para trás.

Comentários

  1. Carlos Peixoto Filho
    palpite: Rondônia pensa como os migrantes do sul que ocuparam o estado, assim como o Mato Grosso.

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  2. Wesley Alves Machado
    Carece de dados estatísticos, prezada Celina Côrtes, mas é bem provável que a neo-colonozação do norte (Rondônia, especificamente) pelos gaúchos e paranaenses, possa explicar a predominância das ideias nazi-fascistas naquele Estado.

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    1. Sim, sua opinião coincide com a do Carlos Peixoto e acho que faz sentido

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  3. Jose Eduardo de Arru Cortez
    Cada vez mais o Brasil se distancia de suas tendências de país que sabe misturar raças e gêneros, sob a influência de valores retrógrados, religiosos e preconceituosos. Nada civilizatórios. Andamos para trás.

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  4. Carlos Minc
    🤔🤔😔😔🥸🥸💪🏽💪🏽💃💃🌲🌲🪘🪘💥💥🌻🌻

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  5. Airton Genaro
    Pois é, o país sempre teve fortes influências da colonização "retrógrada" e fora da realidade mundial... a chamada "revolução industrial" já estava trazendo uma nova perspectiva de melhoria na qualidade de vida das populações a nível mundial e aqui, só chegou na década de 60 ,"bem devagarinho"...a "politização"da população brasileira e a necessidade de participar do desenvolvimento e escolha do sistema democrático foi interrompido pela "revolução de 64"... as "elites financeiras dominantes" por razões óbvias tiveram um "engajamento politico " com o sistema e o povo brasileiro continua como se diz popularmente..."catando lata" para sobreviver e elegendo "bancadas" ...

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  6. Julio Vasconcellos
    A direita é natural, inclusive aqui no Brasil que sempre foi um país conservador. O novo e preocupante é a extrema direita. Cresce aqui como na Europa, embora por motivações diferentes.
    O que acho preocupante é que o centro majoritário deve ser comandado pelo Centrão. Basta olharmos a pulverização de partidos de ideologia zero.

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