Sair da inércia

  Hoje o STF retoma o julgamento que pode descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal. Na última quinta-feira, o ministro Dias Toffoli, único a votar, ficou em cima do muro e não contribuiu para uma decisão final, que deve ser tomada esta semana, com os votos de Cármen Lúcia e Fux. Como se sabe, em abril o Senado aprovou uma PEC de autoria de Rodrigo Pacheco – claramente em campanha por votos de conservadores - que criminaliza o uso e porte de qualquer droga, na contramão do mundo civilizado. O próximo passo é Arthur Lira criar uma comissão especial na Câmara para avaliar o mérito do texto. Consta que ele não tem pressa pela aprovação pela autoria ser de Pacheco. Se o Legislativo conseguir aprovar a PEC, a decisão se sobrepõe à do STF. Este, contudo, pode declarar a PEC inconstitucional. Ou seja, uma guerrinha ridícula que prejudica especialmente os pretos e pobres que lotam os presídios após detenções por portes ínfimos de cannabis , que os transformará em criminosos de

  A coleguinha Sandra Cohen traz o que é para mim uma das melhores notícias dos últimos tempos. Donald Trump, que sempre se gabou de sua acuidade mental, estaria gagá. É o que testemunha o escritor e jornalista Ramin Setoodeh, que o entrevistou seis vezes para " Apprentice in Wonderland ", livremente traduzido como “ Aprendiz no país das maravilhas ”. O livro versa sobre como o ex-presidente virou estrela de reality show , o que o popularizou e o projetou a tornar-se candidato republicano à presidência.   "Como jornalista que passou mais tempo com Trump, devo dizer que ele não conseguia se lembrar das coisas. Nem sequer se lembrava de mim", disse Setoodeh no programa " Morning Joe ", da MSNBC. Após mais de uma hora com o jornalista, Trump não lembrava de nada na segunda entrevista. "Tivemos que recomeçar do zero", afirma o também coeditor-chefe da revista " Variety ". Para Setoodeh, o declínio cognitivo do ex-presidente e candid

  Enquanto assistimos atônitos às investidas conservadoras do nosso Congresso, a extrema direita mundial começa a partir da teoria para a ação do desmonte da Agenda 2030, plano da ONU para criar um desenvolvimento sustentável mundial. O alerta é do jornalista Jamil Chade. Em 2015, governos de todo o planeta criaram 17 metas a serem perseguidas até 2030, que incluem a erradicação da pobreza extrema, a garantia de educação, o uso correto dos recursos naturais e fortalecimento dos direitos humanos entre outros. Esta passou a ser a espinha dorsal dos esforços internacionais de desenvolvimento, a fim de galgar um inédito salto qualitativo mundial até 2030. E o desmonte deste projeto virou bandeira da extrema direita, para ela, “plano globalista para minar soberanias nacionais e destruir famílias." Lembra os argumentos ensandecidos do ministro Ernesto Araújo do inelegível nas Relações Exteriores... Para isso, entram em cena as ofensivas de desinformação e teorias da conspiração,

  Esse vai e vem de decisões do ministro Alexandre de Moraes sobre os vídeos da ex-mulher de Arthur Lira não surpreendem. Talvez Moraes tenha achado impossível que o presidente da Câmara fosse capaz de tanto. O machismo e violência do alagoano, porém, explicam muita coisa.  Como os 23 minutos gastos para aprovar o regime de urgência do PL 1904.  Mais conhecido como PL do Estuprador. Quem conta é a jornalista Ruth Aquino. Era o ano de 2009. Jullyenne Lins tinha se separado de Lira seis meses antes e ousou ir a um barzinho com outro homem.  “Quando abri a porta ele já me deu um soco. Começou a me chutar. Você está procurando homem? Tá, vadia? Tá atrás de homem pra foder?” A cena fica cada vez mais violenta. “Ele ficou por cima de mim. Eu esperneava. Ele fez o ato e não consegui me desvencilhar. Só escapei no momento em que ele foi se arrumar, já muito machucada.” Verdade ou não, no dia seguinte ela fez exame de corpo delito acompanhada da mãe e do irmão. A violência estava toda est

  No último fim de semana tive o prazer de curtir o friozinho de Correas, uns 20 minutos após Petrópolis, na região serrana. Subi cedinho  o vale do Bonfim, que termina no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, e me estarreci com o que vi.   Entre carros velhos e empobrecidos, destacava-se uma reluzente Mercedes branca (foto). Estacionada na porta da sede de uma igreja da Assembleia de Deus.  É inacreditável a falta de vergonha na cara dos pastores, que ainda escancaram o uso que fazem dos dízimos. E impressiona ainda mais como os fiéis não questionam e devem continuar a frequentar aquela igreja como se aquele enriquecimento ilícito não tivesse nada a ver com o suado dinheirinho deles... Enquanto isso, o pastor Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) também manda às favas o mínimo da vergonha na cara, ao propor na Câmara o PL 1904 que criminaliza meninas vítimas de estupro com penas maiores que a do estuprador. Bom, tudo indica que esse absurdo mor não vai adiante. Contudo, os pastores continu

  Quando essas excrescências redigiram o PL 1904 – o PL do estuprador -, que criminaliza o aborto acima de 22 semanas, ainda desconhecíamos os números que acabam de ser revelados pelo Mapa da Violência, divulgado na última terça-feira. São estarrecedores! Das mais de 140 mil mulheres que sofreram com violência doméstica e familiar em 2022, 12 mil foram alvo de algum abuso sexual, conforme o Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O quarto tipo de agressão mais frequente foi a sexual, mais comum entre meninas de 10 a 14 anos. Justo os principais alvos do maldito PL que, além de punir essas crianças com penas superiores à dos estupradores, releva a violência, como se ela fosse parte intrínseca da rotina feminina. Já as meninas de até 9 anos sofreram sobretudo de negligência, com 37,9% dos casos, seguida pela violência sexual – na maior parte das vezes por padrastos -, com 30,4% de incidência. Já a violência sexual na faixa de 10 a 14 anos r

  Se há algo que me dá prazer é quando os bolsonaristas começam a se estapear. Com o inelegível sob sérias ameaças de ir parar atrás das grades, suas crias estrebucham em busca de um protagonismo perdido. Foi o que aconteceu com a não adesão do clã ao fracassado ato convocado na Paulista no último dia 9, organizado pelos extremistas Marcel Van Hattem (Novo) e Carla Zambelli (PL-SP), ela, mais enrolada do que linha em carretel. Como se sabe, os gatos pingados pediam o  impeachment  de Lula – será que ele deixou os gaúchos à deriva como fez o inelegível com as vítimas da Covid-19? – e continuam atacando Carluxo, o 02, que admitiu publicamente o fracasso da malfadada manifestação. Segundo o blogueiro fugitivo da Justiça brasileira, Allan dos Santos, o filho do capitão “tem problema mental" (assim mesmo, no singular) e deveria ficar calado.  A reação surgiu após Carlos criticar o advogado Sebastião Coelho, que defende os golpistas do 8 de janeiro, e o jornalista Marco Antônio Co

  Na minha juventude, atropelada pelos 21 anos da ditadura militar, a igreja católica era quase que sinônimo de direitos humanos, com a Teologia da Libertação. Padres e frades foram presos e torturados pela causa da liberdade. Só que nesses tempos estranhos que vivemos, onde os mais jovens simplesmente desconhecem os horrores da primeira e segunda guerras mundiais, movidas a extremismo, fascismo e nazismo. Desconhecem a tragédia do Holocausto, que matou cerca de cinco milhões de judeus. Informam-se pelas redes sociais e oscilam de acordo com a maré de seus ídolos, muitos deles populistas reacionários que vivem às custas de fake news, como o inelegível aqui e Trump nos EUA. Dito isso, já não se faz igreja católica como antigamente. A Teologia da Libertação foi devidamente enterrada por gente como o papa Joseph Ratzinger. E não se fala mais nisso. O que se vê não podia ser pior. Segundo a professora de Antropologia da Unifesp, Lilian Sales, o fatídico PL 1904, que criminaliza o a

  A notícia é estarrecedora. Os parlamentares não apenas remam contra a maré de penalizar as fake news . Eles também ensaiam meios de criminalizar os que constroem ferramentas para controlar o que eles não querem que seja controlado. É o que denuncia o reitor da UFRJ, Roberto Medronho (foto), em artigo no Globo. Ele diz que foi surpreendido, junto à equipe do renomado NetLab, da Escola de Comunicação, com um requerimento de audiência pública na Comissão de Segurança Pública da Câmara. O objetivo é questionar – e inibir – estudos sobre desinformação e pressionar os pesquisadores a desistir de seus temas de pesquisa em anos eleitorais. “É por conhecer esse roteiro, que lembra os tempos mais sombrios da História de nosso país, que reafirmamos nosso compromisso com o ensino a pesquisa independente”, afirma Medronho. “Não deixaremos nos intimidar por manipulações e ameaças a nossa autonomia universitária, nossa independência acadêmica e à liberdade de pesquisa”, prossegue o reitor.

  Passamos a assistir um momento mais reservado do antes onipresente ministro Alexandre de Moraes. A começar por sua saída da presidência do TSE – onde prestou inestimáveis serviços ao sustentar, duas vezes, a inelegibilidade do capitão. Ou será que ele está recolhido para se preparar para um dos passos mais importantes de sua carreira: mandar o ex-presidente para trás das grades? Sabemos que Moraes coleciona, pacientemente, provas que culminem neste ato. Agora acrescidas de mais uma joia. Talvez seja um momento de necessária discrição para sair da vista dos inimigos, que não são poucos. Tanto que na esvaziada manifestação do último domingo na Paulista nosso herói – para mim devemos a ele não estarmos numa ditadura - foi taxado de "assassino" pelos que também seguravam o boneco inflável de Lula vestido de presidiário. (Como se sabe, bolsonaristas chegaram a planejar enforcar o ministro em praça pública...) Sonhos de uma noite de verão dos doidivanos. Quando sabemos que

  Essa semana farejei cheiro de sabotagem no ar. Fora os inevitáveis atritos com esse Congresso que anda para trás, a economia pode até não estar bombando. Os indicadores, porém, estão equilibrados.  O desemprego é o mais baixo desde 2014, inflação perto da meta, passamos a oitava economia do Planeta. Onde está a crise alardeada pela mídia e pelo Banco Central de Roberto Campos Neto, que ameaça interromper a gradual trajetória de queda dos juros? Isso sem falar no fogo amigo da ala gastadora do PT. Como sacou o jornalista Ricardo Noblat, é justamente em Campos Neto que mora o perigo. Assistimos às tratativas entre Paulo Guedes e o então juiz Sérgio Moro para que este assumisse o ministério da Justiça no governo do inelegível em 2018, devidamente autorizado pelo chefe. O prêmio de consolação seria uma cadeira no cobiçado STF. Como se viu, deu no que deu. Embora negue de pés juntos que pretenda concorrer à presidência em 2026. para fazer média com seu criador, Tarcísio de Freitas d

  É possível imaginar que exista um projeto que obrigue meninas estupradas a levarem a gestação até o fim? O deputado autor dessa crueldade chama-se Sóstenes Cavalcante (PL-RJ, na foto com Arthur Lira). Seu objetivo? Testar Lula sobre seu comprometimento com os evangélicos. Que tal? As meninas que se f... E se o aborto for feito após a 22ª semana de gravidez a mulher pode ficar presa por de seis a 20 anos. Pena maior que a do estuprador! Quem mandou ter aparelhos genitais? Primeiro eles vieram com a PEC das Drogas, depois, o projeto contra delações premiadas e agora essa. Não dá para aguentar! De todos os absurdos cometidos por essa Câmara reacionária este é o maior deles. Imagine se sua filha ou neta, uma criança, é violentada e não pode abortar por causa de uma lei? Se você for uma pessoa rica ou de classe média vai dar um jeito. Se for pobre, porém, terá mais uma boca das muitas que alimenta. E vai condenar a vida dessa criança para sempre. Como se não bastasse a questão em si

O ministro Raul Araújo (foto), corregedor-geral do TSE, conservador e simpatizante do bolsonarismo,  anulou uma condenação  imposta pelo ministro Benedito Gonçalves ao capitão e  seu vice na chapa que concorria à presidência, o ex-ministro Walter Braga Netto . Era a segunda decisão daquela Corte pela inelegibilidade da dupla.    Ambos permanecem, porém, inelegíveis até 2026 por decisão anterior do TSE, tomada em 30 de junho de 2023 e causada pela reunião  com embaixadores  convocada pelo ex-presidente no Palácio do Planalto,  em 18 de julho de 2022. O objetivo foi  atacar nosso sistema eleitoral. A decisão de Araújo foi publicada no último dia 5. O ministro acolheu o recurso que extinguiu parcialmente a condenação aos dois, protocolado pela defesa do ex-presidente. E anula apenas a segunda condenação do inelegível e seu vice, proferida de forma individual por Benedito Gonçalves um mês após a primeira. Nela, os dois foram condenados por abuso de poder político e uso indevido dos m

  O último non sense de Arthur Lira foi impor “urgência” ao projeto que jaz há oito anos na Câmara Federal para invalidar as delações premiadas. Há quem justifique a atitude como “vingança” pela aprovação no Senado do Mover sem o jabuti “Taxa das Blusinhas” (depois aprovada). Mais grave é o que está por trás dela. Além da óbvia tentativa de livrar a cara do inelegível melando a delação do ex-faz tudo Mauro Cid – espinha dorsal do inquérito que pode levar à prisão do ex-presidente -, o projeto interessa a todo parlamentar alvo desse tipo de recurso jurídico. Não são poucos. A começar pelo próprio Lira. Vários especialistas ouvidos pela mídia garantem que se o projeto passar no Congresso não será retroativo, ou seja, não vai interferir em delações anteriores, como a de Mauro Cid e de Ronnie Lessa, que desvendou os mandantes do brutal assassinato de Marielle. O presidente da Câmara desdenhou do projeto do petista Wadih Damous, cujo objetivo era proteger alvos da Lava Jato, sobretud

  Quando vivemos aqui os prósperos anos FHC e Lula, jamais poderíamos imaginar a reviravolta vivida não só pelo Brasil, como pelo que conhecemos como mundo civilizado. Se o Lula 3 trouxe algum respiro, o reacionarismo de nosso Congresso insiste em nos transportar para essa maré tão estranha. Ouso dizer, do mal. Como postou a querida Vera Barredo, o filósofo italiano Franco Berardi propõe em trecho de seu texto "Brutalismo supremacista libertário" que estamos diante de uma verdadeira inversão do juízo ético: os americanos votam em Trump justamente porque ele é estuprador e mentiroso. Já os israelenses apoiam Netanyahu porque ele pratica genocídio, compensando a profunda necessidade de reparação dos descendentes das vítimas de um genocídio passado. Enquanto os jovens argentinos seguem Milei porque acreditam que, finalmente, os melhores serão capazes de se sobressair e os demais passarão fome como merecem. E olha que quando o texto foi produzido Berardi ainda não conhec